Preocupação com o nível da água dos rios motiva agricultores de Rondônia a participar de projetos de recomposição da vegetação nativa.
Em meio a seca histórica de 2024, duas coisas não saem da cabeça dos agricultores de Rondônia: a preocupação com os rios e o desejo de cuidar da terra. Para o agricultor Eber de Oliveira Lopes, beneficiário do projeto Terra e Mata em Seringueiras, a água é essencial para todos os processos produtivos do seu sítio: da irrigação do pasto que alimenta o rebanho de gado até para a agricultura e o consumo próprio.
Refletindo sobre as perdas nas lavouras causadas por eventos climáticos extremos ao longo deste ano, como a seca, Eber afirma que “a água é essencial, sem a água não tem produção. Não se trata nem só da rentabilidade da propriedade, se trata da vida mesmo da planta”. Por isso afirma que “nós, produtores, a gente tem que começar a olhar com mais carinho para a nossa propriedade, porque é dela que vem o nosso sustento, é daqui que a gente mantém a nossa casa, a nossa família”.
Eber não está sozinho. Com ele, mais de 500 agricultores e agriculturas, preocupados com a sustentabilidade e a manutenção dos serviços ecossistêmicos, especialmente a provisão de água, tem procurado apoio de iniciativas como o projeto Terra e Mata, realizado pela Ecoporé com financiamento do Fundo Socioambiental Caixa para recuperação de áreas em seus estabelecimentos rurais.
Em seu segundo ano de execução, o projeto já conta com 369 beneficiários. A partir de novembro de 2024, Eber e outros 93 beneficiários do projeto receberão 86.976 mudas de espécies florestais e frutíferas para iniciar a recuperação de áreas degradadas. Além disso, 276 beneficiários que já haviam iniciado a restauração em 2023, receberão 77.031 mudas para replantio das áreas que foram afetadas pela seca e houve mortalidade acima da média.
Além das mudas e da assistência técnica ao longo do projeto, a equipe da Ecoporé está entregando gratuitamente aos agricultores beneficiados pelo Terra e Mata materiais de isolamento, como mourões, estacas, catracas e arame liso. Isso é necessário pois muitas áreas de restauração estão em meio a pastagens. A mão de obra e a instalação das cercas e os plantios ficam por conta dos agricultores, que também têm a oportunidade de participarem de módulos de formação com temas ligados a agricultura regenerativa.
Outro agricultor de Seringueiras motivado pelas ações de restauração através do Terra e Mata e que, assim como Eber, recebeu materiais de isolamento do projeto, é Leandro Lebarch. Ele conta que há tempos percebe que a água está acabando. “Essa água vindo ali nasce dois lotes para cima. Tem uma nascente muito boa ali, mas não tem nada em volta mais. Então, se não reflorestar, vai secar, porque eu conheço muitos rios grandes aí que já secaram”, diz.
Falas semelhantes se escutam pelos quatro cantos da região e não é diferente entre os beneficiários do projeto. Evandro Paiva de Aguiar também refletiu sobre as causas da seca e se mostrou indignado com a proporção do desmatamento e das queimadas. É justamente pela magnitude da devastação ambiental que ele considera a restauração ecológica importante. Por isso, Evandro convida todos a fazer parte da solução: “se cada um fizer um pouquinho, a gente vai estar reflorestando, reconstruindo aquilo que o próprio ser humano destruiu”.
TERRA E MATA
Realizado pela Ecoporé com financiamento do Fundo Socioambiental Caixa e em parceria com a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Rondônia (Fetagro) e a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater-RO), o projeto visa aliar conservação e recuperação ambiental com geração de renda através da promoção da agricultura regenerativa em propriedades da agricultura familiar na Amazônia. Entre 2022 e 2026, o projeto prevê a produção de 480 mil mudas, beneficiando 500 agricultores em Rondônia por meio da implementação de 200 sistemas produtivos sustentáveis e da recuperação de 300 áreas sensíveis. A iniciativa contribui para que o Brasil atinja o compromisso com a ONU de reflorestar 12 milhões de hectares de floresta até 2030.