Restauração de áreas de preservação permanente e medidas de mitigação foram algumas das soluções levantadas para contornar os impactos econômicos e ambientais da escassez hídrica.
Agricultoras e agricultores familiares de Rondônia sentiram os efeitos da extrema seca deste ano em suas plantações. O estado tem a maior produção de café na Amazônia brasileira e é lar da indicação geográfica (IG) Matas de Rondônia, um tipo de denominação geográfica, que resulta no café Robusta Amazônica. Não por acaso, os impactos da seca na produção do café, tema do V Dia de Campo do projeto Terra e Mata, são um tópico recorrente nas conversas entre os agricultores.
O tema foi abordado por Ana Lúcia Cardoso Martins, técnica de campo na cadeia da cafeicultura do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Rondônia (Senar-RO) que conduziu a atividade no dia 24 de outubro de 2024. Ana Lúcia explicou que é a importância de entender que não somente a falta de água, mas também as altas temperaturas impedem o desenvolvimento dos frutos, provocando desuniformidade na florada e facilitando o aparecimento de novas doenças e pragas, como cochonilha, ácaro vermelho, bicho mineiro e nematóides.
Dentre as alternativas adotadas por alguns cafeicultores para lidar com a seca nas plantações de café, estão a irrigação e a abertura de poços artesianos. A estratégia mais eficiente, no entanto, é a recuperação de áreas degradadas, sobretudo aquelas próximas aos corpos hídricos, que são a principal fonte de abastecimento de água nas propriedades.
O cafeicultor e beneficiário do Projeto Terra e Mata, Airton Bento Sarri, que recebeu em sua propriedade na zona rural do município de São Miguel do Guaporé-RO os participantes do V Dia de Campo, gostou não só de ter recebido as pessoas em seu sítio, como também de poder tirar dúvidas sobre uma gestão eficiente da produção de café, especialmente na identificação de pragas e/ou doenças.
Refletindo sobre o Terra e Mata, Airton o avalia como um “um projeto nota 10”. Para ele, o que mais marcou em sua experiência como beneficiário, até agora, foi “o apoio que a gente recebe da parte de vocês [Ecoporé], que vocês estão fazendo a distribuição das mudas, o projeto de cercar a área que vai ser reflorestada”. Ele acredita que daqui para frente “muita gente vai tomar conhecimento do que precisa fazer na propriedade e enxergar aquilo que a gente pode melhorar na nossa propriedade”.
O V Dia de Campo deu continuidade a um ciclo de Dias de Campo, iniciado em novembro de 2023 e com encerramento previsto para janeiro de 2025. Nos eventos anteriores foram abordados os temas: “preservação e recuperação de nascentes”, “diversidade na agricultura familiar”, “Sistemas Agroflorestais Biodiversos para conservação do solo” e a “importância da restauração florestal no estabelecimento das cadeias produtivas locais”. Ao todo, aproximadamente 150 pessoas compareceram nas atividades de Dias de Campo.
Além da técnica do Senar, a atividade contou com a presença de outras 22 pessoas, entre agricultores da região, estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), campi de São Miguel do Guaporé, servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as colaboradoras da Ecoporé, Ana Paula Albuquerque, gerente de educação e responsável pela atividade, Jéssica Muniq e Sueli Barbosa, responsáveis pela assistência técnica nesta região de atendimento do projeto.
TERRA E MATA
Realizado pela Ecoporé com financiamento do Fundo Socioambiental Caixa e em parceria com a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Rondônia (Fetagro) e a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater-RO), o projeto visa aliar conservação e recuperação ambiental com geração de renda através da promoção da agricultura regenerativa em propriedades da agricultura familiar na Amazônia. Entre 2022 e 2026, o projeto prevê a produção e distribuição de 480 mil mudas, beneficiando 500 agricultores em Rondônia por meio do apoio para a recomposição de 300 hectares de áreas degradadas, 100 nascentes recuperadas, 200 quintais produtivos protagonizados por mulheres e jovens. A iniciativa contribui para que o Brasil atinja o compromisso com a ONU de reflorestar 12 milhões de hectares de floresta até 2030.